Com o seu ritual de ferro,
As suas grandes chaminés,
Os seus sábios clandestinos,
O seu canto de sirenes,
Os seus céus de néon,
As suas vendas natalícias,
O seu culto ao deus pai,
E aos galões.
Com as suas chaves do reino,
O norte é que é quem ordena
Mas aqui em baixo, em baixo,
A fome disponível
Colhe o fruto amargo
Do que outros decidem,
Enqaunto o tempo passa,
E passam os coretjos,
E se fazem outras coisas
Que o norte não proíbe.
Com a sua constante esperança,
O sul também existe.
Com os seus predicadores,
Os seus gases venenosos,
A sua escola de Chicago,
Os seus donos da terra,
Os seus trapos de luxo,
E o seu pobre esqueleto,
As suas defesas gastas,
A sua gesta invasora,
É o norte que ordena.
Mas aqui em baixo, em baixo,
Cada um no seu canto,
Há homens e mulheres
Que sabem o que fazer,
Aproveitando o sol
E também os eclipses,
Afastando o inútil
E utilizando o que serve
Com a sua fé veterana,
O sul também existe.
Com o seu corno francês,
E a sua academia sueca,
A sua salsa americana,
E as suas chaves inglesas,
A sua guerra de galáxias,
E a sua sanha opulenta,
Com todos os seus louros,
O norte é que ordena.
Mas aqui em baixo, abaixo,
Perto das raízes,
É onde a memória
Nenhuma recordação omite,
E há quem se recuse morrer,
E há quem se esqueça de viver,
E assim, entre todos, se consegue
O que era um impossível:
Que todo o mundo saiba
Que o sul também existe
*poesia "O Sul Também Existe", de Mario Benedetti.
quinta-feira, agosto 02, 2007
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